Por Luana Villac
Editor : Lauro Henriques Jr.
Cecília Guilhereme Cardi chegou ao Santuário Espiritual Ramatís, na cidade de Leme, no interior de São Paulo, em uma cadeira de rodas. Cinco meses antes, a dona-de-casa paulista estava dentro de um elevador quando o cabo de aço se rompeu e o equipamento foi abaixo. Cecília ficou seriamente ferida e passou dez dias no hospital. Depois do acidente, sua vida nunca mais foi a mesma: dores intensas na região da coluna a impediam de se locomover normalmente. Foram meses de sofrimento e seis operações, até que uma vizinha lhe falou sobre um médium que, segundo diziam, era capaz de curar as pessoas por meio de cirurgias espirituais. Cecília resolveu tentar. “Foi a melhor decisão que já tomei”, afirma. “Três dias após a cirurgia, já não sentia dor nenhuma”. Hoje, um ano depois da intervenção do médium, ela anda normalmente e nunca mais teve problemas.
O suposto responsável pela melhora de Cecília atende pelo nome de Waldemar Coelho. Ele é um dos médiuns brasileiros que, todos os anos, atendem milhares de doentes em operações que seriam realizadas pelos espíritos. Na verdade, os médiuns sérios costumam dizer que não são eles, mas, sim, as entidades que curam – eles seriam apenas os “bisturis” nas mãos do além. Seja como for, as cirurgias espirituais atraem multidões e desafiam a medicina tradicional com diversos casos inexplicáveis de cura narrados pelos pacientes.
Espírito-socorro
Se representam um desafio para a ciência – que até hoje não tem explicações para as curas creditadas ao “lado de lá” –, as operações mediúnicas colocam em cheque o próprio senso comum acerca de como deve ser um procedimento médico. Por vezes, as cirurgias são recheadas de cenas tão surpreendentes quanto aflitivas, como as do médium introduzindo tesouras e pinças pelas narinas dos pacientes ou raspando os olhos dos mesmos com canivetes ou as próprias unhas. E o que é mais impressionante: o processo todo se dá sem anestesia e, ainda, num cenário muito distante dos padrões mínimos de assepsia hospitalar. A surpresa aumenta quando se leva em conta que, além da incrível analgesia dos pacientes – qualquer pessoa em sã consciência estaria berrando de dor –, não há registros significativos de contaminações, o que seria inimaginável em instituições de saúde “deste mundo”, que padecem de índices altíssimos de infecções hospitalares.
O estranhamento com o procedimento, contudo, não parece afastar os pacientes. Só no Santuário Ramatís, Waldemar Coelho, de 69 anos, e sua equipe recebem cerca de 300 pessoas por semana, que se queixam das mais diversas doenças – câncer, hérnia de disco, miomas, catarata e até depressão. Para ser atendido por eles, ou melhor, por intermédio deles, é preciso fazer reserva com pelo menos dois meses de antecedência. No dia marcado, então, enquanto se desenrola uma das operações, o doente estará entre as dezenas, às vezes centenas de pessoas que, de fora, aguardam esperançosas sua vez de “entrar na faca”.
Tão impressionantes quanto as cirurgias são os relatos de cura, que colocam à prova até os mais céticos. Como o do pintor Airton Ferreira, de Rio Claro, no interior paulista, que sempre gostou de praticar artes marciais. O hobby, contudo, acabou lhe custando um problema sério no menisco. Quando procurou um médico, recebeu duas notícias: a única forma de resolver o problema seria através de uma operação. A segunda? Mesmo assim, não poderia voltar a treinar nunca mais. Depois de tentar acupuntura e fisioterapia sem obter resultados, decidiu ir atrás do médium Coelho, que tinha visto na televisão. “Cheguei lá tirando sarro”, relembra Airton. “Trinta dias depois, contudo, eu já estava lutando caratê novamente. Isso foi há dez anos, e até hoje eu freqüento o centro para agradecer”.
Outro elemento responsável pelo intenso fluxo de visitantes ao Ramatís é o custo do tratamento. Ou melhor, a falta dele: as cirurgias são totalmente gratuitas, conforme o preceito espírita de incentivo à caridade. Mas engana-se quem pensa que somente as camadas mais pobres da população procuram o local. Na lista de pacientes que já passaram por lá figuram nomes como Hortênsia e Paula, ex-jogadoras da Seleção Feminina de Basquete, e Pedro Ivo, ex-governador de Santa Catarina. Na entrada do centro, há uma sala com as paredes cobertas por mais de 100 camisas de atletas, além de sapatilhas de balé, quimonos de artes marciais, cartas e fotografias – todos objetos estão assinados por pessoas que lá chegaram em busca de cura e dizem a ter encontrado. Uma camisa de basquete com as cores do Brasil, por exemplo, traz a inscrição feita à caneta: “Ao Senhor Waldemar, de quem te admira, Paula”.
Sistema sobrenatural de saúde
A cerca de mil quilômetros do centro Ramatís, nas cercanias de Brasília, dois outros médiuns atraem caravanas de doentes com seus tratamentos gratuitos. João Teixeira de Faria, de 64 anos, promove sessões de cura desde a década de 70 em Abadiânia, cidade goiana à uma hora da capital. João de Deus, como é chamado, ficou conhecido mundialmente em 1991, ao receber a atriz norte-americana Shirley MacLaine, que foi submeter-se a uma operação espiritual para extrair um câncer no abdômen. Na época, ela deu entrevistas afirmando que estaria curada. Desde então, João de Deus já viajou para mais de 15 países e, hoje, o fluxo de pessoas que o procuram é formado majoritariamente por estrangeiros. Não longe dali, em Gama, cidade-satélite do Distrito Federal, o médium Valentim Ribeiro de Souza, de 66 anos, também recebe multidões do Brasil e do exterior. Mestre Valentim, como é conhecido, realiza centenas de atendimentos gratuitos por semana no Recinto de Caridade Adolfo Bezerra de Menezes. Outro lugar bastante conhecido nessa espécie de “SUS do outro mundo” é o Educandário Social Lar de Frei Luiz, localizado no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. As operações realizadas na instituição atraem milhares de pessoas por mês ao local, muitas delas atores globais. Aliás, esse tipo de tratamento atrai celebridades de todas as áreas.
Texto publicado no Especial
"150 anos do Espiritismo" Volume 2 (pág. 42),
do Almanque Abril, da Editora Abril.
gostaria de saber o endereço do hospital.
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